sábado, 3 de abril de 2010

Beijos do seu Soldadinho de Chumbo

"Querida bailarina, talvez a senhorita nem mais esteja por aí. Nem sei se teu castelo de papelão ainda permanece intacto depois de tanta chuva, ao menos vale a esperança de que não naufragues junto as àguas revoltas desses dias que nos toma por assalto. Era necessário que eu escrevesse para ti mais uma vez. Faz tanto tempo que não a contemplo de perto e nem mesmo sei se já reconheceria teu gosto em outros beijos. Tudo que não me deixa em paz.

Não sei se sabes ou conheces bem isso, porém as pessoas estão se perdendo em relações abstratas, e eu aqui esperando que me caia outra noite em que o céu esteja limpo e que eu possa contemplar novamente o nascimento de algo, algo que não sei o nome: sei apenas que é preciso cativar o outro e depois de tudo, quereremos nos transformar no que agrada o outro. Como um objeto não identificado: porque é preciso que as vezes não digamos o nome nem classifiquemos as coisas, os seres.

Falo de uma bruta flor do querer minha querida, e você o que me diz disso tudo? Será que já perdeu as forças de lutar em posse de cisnes? Lembre que mesmo ferido e reclamando esperei por ti em cima de uma única perna e mesmo meus braços cansados de carregar o fardo fuzil não me abateu. A amizade vale mais que tudo, e é tão bom conhecermos pessoas assim iguais a nós, pessoas que às vezes parece faltar um pedaço.

Acho que essa semana aconteceu algo desse tipo: era um garoto que como eu escuta Gal Costa e reflete a poesia dos isolados, dos sozinhos e sonhadores idealistas. Como se fosse um objeto não identificado. Minha pequena e tão doce bailarina, não deixe de me responder, preocupo-me muito com a tua ausência e preciso saber se ainda pensas em mim. Esse silêncio todo me atordoa mas os dias que virão serão mais claros. Aqui também chove, mas às vezes bate sol… É preciso que haja um néctar na imensidão do tempo, em que sol e chuva soem como mais um dia que acalenta tudo quanto queremos, e que não faça apenas sol para que apague de brilho e calor os corações de chumbo como o meu. Nem mesmo que só chova, porque o frio tornaria-se o agasalho que esquenta e não eu a teu lado tentando recuperar esse coração quase dilacerado pela chuva."

Um comentário:

Nayara Gomes disse...

Tem muito tempo que sou apaixonada por este texto. De quem é?