quinta-feira, 11 de junho de 2009

Catorze (parte dois)

Caminhei calmamente até "nosso" lugarzinho, ao lado da cantina. Passaram mais algumas pessoas que ainda não haviam me visto, e sorriam calorosamente a me desejar um feliz aniversário. Brinquei e gastei conversa, até que finalmente o bendito sinal tocou. Enquanto Lelê enganava as pessoas dizendo que o bouquet era dela, eu aguardava impaciente e procurava na pequena multidão, um rosto. Um único rosto... Estava um tanto quanto desesperada pra pular nos braços dele e dizer o quanto eu A-M-E-I. Por um instante, virei de costas pra pegar meu bouquet e acabar com a diversão da Lele, e ele chegou; dando início a minha diversão. Dando-me um susto também, um susto bom que me encheu de calmaria e tranqüilidade. Pedi um momento pra deixar o bouquet a salvo, e ele olhou confuso. Foi quando eu finalmente pude aliviar toda aquela vontade, dar aquele abraço esmagador, sentir cada linha do meu corpo colada no dele e falar que eu tinha amado. Mas não era apenas isso, ia muito além disso, do verbo 'amar'. Eu queria poder descrever tudo o que eu senti, mas as palavras sumiram vendo o encabulamento dele. Mal sabia ele o que, poucos minutos antes, eu passara com suas palavras.
Fiquei ainda mais feliz (acredite ou não, ele está sempre elevando enormemente meus níveis de felicidade) quando ele falou que não precisaria me deixar esperando mais, mesmo sabendo que por ele eu esperaria o tempo que fosse, ele abriu mão, outra vez, de um compromisso. E me comunicou que poderia ir ao meu almoço direto, comigo... Mesmo ficando mais velha, a cada minuto, e principalmente, naquele dia; eu só me sentia mais e mais criança. Porque o sorriso e o olhar dele, e das pessoas que tanto almejavam minha felicidade, me faziam voar, me faziam brincar nos mais diversos tipos de brinquedos que me deixavam incondicionalmente feliz... Então, tudo começou a suceder perfeitamente bem. Mamãe e papai chegaram à escola para nos buscar, o caminho foi descontraído e calmo. Chegamos em casa e eu acabara de ganhar outra carta, que li até a metade e pausei. Sabia que no estado emocional no qual me encontrava, não agüentaria e derramaria lágrimas de novo. E todos já aguardavam e esperavam por isso, mas não era o momento; só queria ver todas aquelas pessoas que eu amo, descontraídas. Famintos, comemos um almoço delicioso e já chegara quem estava faltando. A parte dos telefonemas começou, e era bom escutar a voz de parentes de tão longe, mas me perguntava por que isso acontecia só em aniversários. Não queria achar respostas, não naquele momento mágico. Olhava em volta e via brincadeiras, risadas gostosas, acordes do violão e vozes aconchegantes. Tudo corria em sintonia, tudo corria bem. Foi quando eu pude, sem querer, ter magoado meu amado. Sem pensar, fiquei junto de meu melhor amigo, dando atenção a ele, e trouxe-o a meu quarto sozinho, justamente para lhe mostrar a carta de meu amado, que tanto me comovera. O que eu não via, era o quanto esse ato podia lhe machucar. Mas fui alertada a tempo, e tentei concertar meu erro, então voltei à sala pra junto dele. Mais do que nunca, me sentia em casa. Cercada de tanto carinho, tanta alegria. Meu astral estava multicolorido.
Se eu pudesse guardar cada momento, além de claro, dentro de mim; aquele definitivamente ficaria guardado em uma caixinha, trancado a sete chaves, pra me encher de energia quando eu fracassasse... Tanto aquele, quanto um outro acontecimento que estava chegando, prestes a se apresentar para minha alegria. Uma surpresa que eu desejei e praticamente implorei durante todo o mês. E começou com o “Vamos lá” do dono do meu coração, me convocando a vir para o quarto, pois queria tocar somente para mim. Somente para mim, não foi. Pois Lila e Amanda estavam presentes, mas como elas são partes de mim, praticamente era só para mim.
Envergonhado e nervoso, ele desdobrou seu rascunho e ajustou o violão. Eu o secava admirada.
As primeiras notas foram emitidas, era um som agradável e harmonioso. Cada acorde que passava por meus ouvidos, fazia meu coração bater tão freneticamente que parecia escapar de meu corpo. Cada letra que ele cantava no ritmo, deixava cada célula do meu corpo agitada, se manifestando. Eu o fitava, tentando me concentrar em respirar e não chorar, mas não fui capaz. O ar já entrava gelado, o nó foi se formando e a ardência começou. As lágrimas me entregaram. Entregaram o quanto aquilo me deixava contente, tanto que até fiquei meio tonta, por ter ACABADO de descobrir que a felicidade realmente existia, e que era muito melhor do que tudo o que já me falaram. Por ter milhões de borboletas do tamanho de elefantes brincando com meu estômago... Por ter toda a mágica que eu sempre vi meio falha; finalmente inteira.
A maior parte da nossa vida, é uma série de imagens. Elas passam pela gente como cidades na margem da estrada. Mas algumas vezes, um momento se congela, e algo acontece. E nós sabemos que esse instante é mais do que uma imagem. Sabemos que esse momento, e todas as partes dele... irão viver para sempre. E foi exatamente assim como aconteceu. Ficou em mim. A letra da música era “Quando estou sem você/ O tempo passa devagar/ De repente, do dia pra noite/ Você conseguiu me transformar./ No meu coração/ Só há espaço pra você/ Por toda minha existência/ Não quero te esquecer/ Luisa, você é a brisa da minha vida/ Minha musa, minha companhia/ Você é a onda do meu mar.../ Luisa, você é a água do meu rio/ Sem você minha vida não faz sentido/ E juro pra sempre te amar!" Eu contemplava minha sorte. Ele cantava pra mim e o mundo poderia desabar que eu estaria realizada. A letra soava como minha própria versão de nosso amor, pois ele é a onda do meu mar, todo o resto que ele citou e muito mais. Aquela música, eternizou nossa história. O instante se eternizou, pairou e durou por muito mais tempo do que um mero momento. E lá estava eu, outra vez, pendurada em seus braços, parecendo estar em outra dimensão.

Nenhum comentário: