quinta-feira, 11 de junho de 2009

A data.

Querendo ou não (e de fato, ela não queria), aquela data estava chegando. Viveu muitos anos se perguntando porque a data a incomodara, tentou também por muito tempo ignorar esse desafeto, e se acostumar. Formulou traduções e pensamentos mirabolantes que explicariam essa arrogância pela tal, mas não pôde. Talvez no fundo até gostasse da data, que a tempos trouxe alegria incontável para quem a esperou. Porém, não achava graça e não sentia o frio na barriga, a ansiedade; contagem regressiva? Jamais. O rumo que os dias antecedentes e decorrentes tomavam, a aterrorizava, a cortava. Virava tudo uma bagunça, e ela não precisava de gente que nunca ligou ou demonstrou, fazendo-os porque era sua data. Sua data? Ninguém é tão pequeno a ponto de ser limitado a 24 horas... Obviamente, ela gostara de se sentir especial. Adorava presentes, homenagens, abraços apertados e votos de felicidade, tudo isso é vida; ela era completamente louca por vida. Chame-a de estranha, mas não se sentia confortável quando tinha isso apenas em uma dia qualquer que tantos dizem ser magnífico... não passava de mera obrigação. É egoismo querer se sentir amada todos os dias? Querer surpresas e emoções diariamente?! Talvez sim, talvez não. Enquanto todos seguiam uma linha de pensamento e se minimizavam (ou não) em um único dia, ela queria apenas ser lembrada sempre. E quem a amava sempre, se adaptara a sua linha própria de pensamento.
Contraditória, pra variar... pensou também que deveria enfrentar de uma vez por todas esse seu medo (aceitar as pessoas sumidas que ela achava que se esqueciam dela, os presentes quase-que-obrigatórios, e o carinho; afinal, não se nega carinho). Quebra-lo em coragem, para crescer. Colecionando data por data daquela, e ela estaria grande. Num futuro tão próximo, que ela desejara poder afastar. Apesar da palavra "crescer" não combinar minimamente com ela, as novidades combinavam. E era disso que o futuro tratava: de novidades. Se lembrou de ano passado ter dito que não queria o futuro, pois não queria crescer (e continua não querendo), mas o futuro que chegou a ela foi inexperado e bom. Incrivelmente bom. Não foi o bicho de sete cabeças que ela pensou que seria. Entre temer ou não o futuro, ela escolheu ignora-lo e pensar no presente. Seu presente sim, era digno de sua coragem e empenho.

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